segunda-feira, 2 de junho de 2008

Mundo fervilha e atletas voam na altitude mexicana

Por Erik Januário (Editoria de Esportes)


O evento teve alto grau de envolvimento político, já que o ano de 1968 foi um dos mais politizados da história. No país sede, pouco antes da abertura, 300 mil estudantes e professores entram em greve e, dez dias antes da festa de abertura, tropas do governo abrem fogo contra milhares de manifestantes na Praça das Três Culturas, matando centenas de jovens.

No ano de 1968, o mundo fervilhava. A China vivia o início da Revolução Cultural. Na antiga Tchecoslováquia, tanques soviéticos esmagavam os protestos populares no que ficou conhecido como "Primavera de Praga". Na França, o governo enfrentava manifestos estudantis e nos Estados Unidos foram assassinados o presidente Robert Kennedy e o líder negro Martin Luther King. No Brasil, os protestos contra a Ditadura Militar eram duramente repreendidos, no que culminaria com a assinatura do Ato Institucional número 5, em dezembro.

Mesmo o México vivia problemas políticos. Pouco antes do início dos Jogos, 300 mil estudantes e professores entram em greve. Dez dias antes da cerimônia de abertura, tropas do governo abriram fogo contra manifestantes na Praça das Três Culturas, matando centenas de jovens.

O clima de revolta em todo o mundo se refletiu na cerimônia de premiação dos 200m rasos. Os americanos Tommie Smith e John Carlos, respectivamente ouro e prata na prova, ergueram o braço esquerdo com o punho fechado, reproduzindo a saudação dos movimentos de resistência negra. Os dois velocistas foram mandados de volta aos Estados Unidos, mas outros atletas negros continuaram fazendo protestos até o fim dos Jogos.

Pela primeira vez as duas Alemanhas competiram separadas, com os nomes de Alemanha Oriental (comunista) e Ocidental (capitalista). África do Sul e China não foram convidadas a participar.

A escolha da Cidade do México para sediar os Jogos levantou polêmica por causa de seus 2.240m de altitude. Médicos diziam que a prática esportiva em altitude tão elevada seria prejudicial. Mas a principal conseqüência foi que houve várias quebras de recorde nas provas de velocidade, mas os atletas sofreram nas provas de resistência. Quem se destacou foram países como Etiópia e Quênia, onde os atletas estavam acostumados à altitude.

O México teve a pior colocação de um país-sede na história dos Jogos, ficando em 15º lugar, com apenas nove medalhas.

Uma novidade importante da Olimpíada de 1968 foi a introdução do controle antidoping e das provas de comprovação de sexo para as mulheres. Havia suspeita sobre as características físicas de algumas atletas do bloco socialista. Nenhuma mulher foi reprovada no exame e houve apenas um caso de doping: o do pentatleta sueco Hans-Gunnar Liljenvall, que havia ingerido álcool em excesso. A substância é usada pelos atletas para acalmar os nervos antes da prova de tiro. Liljenvall alegou que bebera apenas duas cervejas, mas a equipe sueca foi desclassificada.

O salto em altura viveu uma revolução no México, quando o até então desconhecido americano Richard Fosbury ganhou a medalha de ouro. Ele foi o primeiro atleta a saltar de costas para a barra, passando primeiro a cabeça e depois o resto do corpo. Antes, os altetas saltavam de frente para a barra.

O Brasil conseguiu no México uma medalha de prata no atletismo e dois bronzes - um no boxe e outro na vela. Oito anos depois de Adhemar Ferreira da Silva conquistar o bicampeonato olímpico, o salto triplo deu mais uma medalha para o Brasil. Nelson Prudêncio saltou 17,27m e estabeleceu o novo recorde mundial. Mas na última tentativa o soviético Viktor Saneyev alcançou a marca de 17,39 metros, conquistando o ouro.

Servílio de Oliveira conquistou a primeira e única medalha do Brasil no boxe, com bronze na categoria meio-médio, após ser eliminado nas semifinais pelo mexicano Ricardo Delgado. Na classe Flying Dutchmann, os iatistas Reinald Conrad e Bukhard Cordes também garantiram o bronze.

Também pela primeira vez as duas Alemanhas competiram separadas, com os nomes de Alemanha Oriental (Alemanha Democrática) e Ocidental (Alemanha Federal). África do Sul e China não foram convidadas a participar.

Servílio de Oliveira
(grande pugilista brasileiro)

Servílio de Oliveira foi um dos maiores pugilistas do Brasil em todos os tempos. Nascido em São Paulo em 06 de maio de 1948, escreveu definitivamente seu nome do ‘hall’ dos grandes atletas ao conquistar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1968. Por sinal, esta segue sendo a única medalha obtida pelo Brasil na modalidade em olimpíadas até hoje. Servílio perdeu a semifinal que poderia levá-lo à decisão para o mexicano Ricardo Delgado. Atualmente, reside em São Paulo e trabalha como coordenador das equipes de boxe da Associação Desportiva São Caetano.

O pugilista guarda a frustração de não ter alcançado o título mundial. Em 1971, com apenas 23 anos, levou um soco no olho em um combate que provocou o descolamento de sua retina. Ainda disputou algumas lutas mas nunca mais foi o mesmo. Optou por permanecer no esporte na função de treinador.

Nelsom Prudêncio


Muitas vezes esquecido por surgir em meio aos fenômenos Adhemar Ferreira e João do Pulo, Nelson Prudêncio é o terceiro craque do triplo brasileiro. Sua vida esportiva ficou marcada especialmente no dia 17 de outubro de 68, quando quebrou o recorde mundial do salto triplo quatro vezes, na final da prova na Olimpíada do México. Prudêncio disputava o ouro contra o italiano Giuseppe Gentile e o soviético Viktor Saneyev. O soviético levou a melhor. Alcançou 17,39m, superando o recorde que Prudêncio havia batido no salto anterior, com 17,27m. O brasileiro foi prata. Em Munique/72, Prudêncio ficou com a medalha de bronze. No Pan de Winnipeg, no Canadá, ficou com o segundo lugar.

Reinald Conrad e Burkhard Cordes

O nome Reinaldo Conrad talvez não seja familiar para boa parte dos brasileiros. Mas, para a vela, representa muito. Foi o 1.º do Brasil a conquistar medalha na modalidade mais vitoriosa do País em Jogos - 6 ouros, 2 pratas e 6 bronzes. Em depoimento a Heleni Felippe, Conrad lembra de sua história em Olimpíadas

José Silvio Fiolo

Sylvio Fiolo foi um dos maiores nadadores brasileiros. Recordista mundial dos 100 metros peito (1min06s4), em 1968, o atleta disputou dois Jogos Olímpicos (1968 e 1972) e conquistou sete medalhas em Jogos Pan-americanos, sendo duas de ouro e cinco de Bronze. Ele está na lista dos brasileiros recordistas de vitórias no Pan na oitava colocação. Por mais de 30 anos, ele foi o detentor do último grande resultado do Brasil em Olimpíadas no nado peito. O ex-nadador ficou a apenas um décimo da medalha de bronze na disputa do México (1968). Nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá, em 1967, ele conquistou duas medalhas de ouro nos 100m e nos 200m peito. No ano seguinte, bateu o recorde mundial da modalidade com o tempo de 1min06s40. Pela falta de incentivo ao esporte no Brasil, Fiolo mudou-se para a Austrália e há 30 anos vive como professor de Espanhol no país. O único contato com o esporte hoje é por meio do filho, Pietro, que é jogador de pólo aquático da Seleção Australiana.

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