quinta-feira, 26 de junho de 2008

O “GRANDE TEATRO” DE 1968 – Com Foco Em Zé Celso Martinez Corrêa

Por Brunna Condini (Editoria de Teatro)

O Teatro, como várias outras expressões artísticas, foi sufocado pelos acontecimentos políticos e transformações sociais de 68. O Ato Institucional número 5 baniu os ensaios de socialização da cultura no país. O Teatro mais artístico se refugiou nas pequenas companhias, com pouco dinheiro e pouco público.

Em 1968, o autor e diretor, estava no auge do desenvolvimento da linguagem de sua companhia. O Teatro conheceu um movimento arrebatador que não sobreviveria à tanta repressão.Participou desse período com o mesmo gás, o Teatro Arena,de Augusto Boal. Ambos tiveram que se exilar, mas isso não abalou a dedicação em criar uma dramaturgia própria, totalmente brasileira. Bons profissionais surgiram de seus trabalhos. Fincaram a história do Teatro no país.Ambos foram violentamente interrompidos pelo AI-5.

Formou, em 1958, um grupo de teatro amador, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que daria origem ao Teatro Oficina, marcado pelo compromisso de fazer uma obra de caráter inovador. Entre suas mais famosas montagens estão como Quatro num quarto, de Valentin Kataiev, e Andorra, de Max Frisch, dirigidas por ele e por Carlos Queiroz. Em 1967, com a montagem da peça O Rei da Vela, de Oswald de Andrade passou a desenvolver-se e expressar-se através do espetáculo-manifesto. Foi duramente censurado e acabou indo para o exílio.

Em 1970 vivenciou todas as experiências da contracultura. Era um líder de sua comunidade teatral e diretor das montagens com criações coletivas. Em 1990, ressurgiu com o Oficina,conectado ao tempo e conectando constantemente vida e Teatro. Reinventou-se.

Nos anos 90, o Oficina voltou a atuar em São Paulo sob o seu comando, com nova organização,mas procurando manter a mesma linha teatral com projetos como Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues e, mais recentemente a epopéia de Os Sertões de Euclides da Cunha que retrata o episódio da Guerra dos Canudos. Entre outras peças de destaque em que dirigiu, pode-se citar Pequenos burgueses, de Maksim Gorki (1963) e Roda Viva, de Chico Buarque (1968).

Teve como colaboradores nomes que também são verdadeiros marcos na história teatral brasileira,como Renato Borghi,Fauzi Arap,Célia Helena,Eugenio Kusnet, e também uma privilegiadíssima atuação de Henriette Morineau em Todo anjo é terrível,de Ketti Frings,em 1962.

"Durante cerca de uma década, década excepcionalmente efervescente, José Celso foi, provavelmente, a personalidade criativa mais forte do teatro brasileiro; foi, em todo o caso, o encenador mais aberto a idéias ousadas e sempre renovadas, capaz de realizar, a partir delas, espetáculos surpreendentes, generosos, provocantes, excepcionalmente inventivos. Sua atuação, nessa época, marcou não só o teatro nacional - Pequenos Burgueses, O Rei da Vela e Na Selva das Cidades, pelo menos, têm lugar garantido e importante na História desse teatro - como também a arte brasileira em geral. Durante esse tempo, ele foi um divisor de águas, um ponto de referência e uma fonte básica de influências".
(Yan Michalski – Fala sobre a importância hegemônica de Zé Celso durante a década de 60)

Zé Celso e toda memória do Oficina, ficaram exilados de 1974 a 1978. Poucas vezes, viu-se um artista “possuído” desta maneira. Seu estilo único, sua maneira brasileira de buscar o mais brasileiro dos teatros, tudo isso fez de Zé Celso, um ícone. Responsável por um divisor de águas, histórico e criativo. Autor, diretor e ator, era e continua sendo,um operário do ofício.Um dos mais talentosos e originais diretores do momento e segundo alguns críticos, a mais perfeita encenação stanislavskiana do teatro brasileiro. Irreverente, irresistível e resistente. Em 2008, quarenta anos depois, José Celso Martinez Correia, ainda tem seu Teatro Oficina e continua resistindo.

Um comentário:

Fundação Oscar Araripe disse...

Brunna Condini,
Sugiro que escreva um artigo sobre a famosa Greve do Teatro, um dos episódios mais relevantes da resistência à Ditadura no ano de 1968. Greve inusitada, única do gênero no mundo, a greve teve como gota d'água a punição à atriz Maria Fernanda e ao animador cultural Oscar Araripe, e se constituiu num episódio de narração indispensável na comprensão da luta da resistência democrática, conforme atestam Zuenir Ventura, Élio Gaspari, Regina Zappa e Yan Michalski, entre outros.