terça-feira, 10 de junho de 2008

Histórias de quem viveu a História

Por Keliane Muniz (Editoria de Literatura)


Valores sociais ultrapassados; falsos moralismos; repressão sexual; injustiças sociais; a guerra do Vietnã; barricadas de Paris; por aqui a Passeata dos Cem Mil e o AI-5... Assim foi 1968, o ano mais polêmico do século XX. Quarenta anos depois das manifestações que atingiram várias partes do globo simultaneamente, chegam às livrarias de todo o país obras para não deixar a data passar em branco. Fotografias, histórias e depoimentos de políticos, artistas, jornalistas ou simplesmente revolucionários comuns compõem a vasta documentação do que foi a geração que não teve medo de ir às ruas protestar.

Como um plano arquitetado em escala ocidental, 1968 abalou as sociedades. Estas nunca mais seriam as mesmas depois do fatídico ano que delimitou um ponto de virada político-sócio-cultural. Na França, até hoje, a direita rotula o maio de 68 como “evento”; já a esquerda prefere chama de “movimento”.

Para relembrar o período, livrarias como a da Travessa e Saraiva criaram espaços em suas lojas e sites dedicados exclusivamente a publicações atuais e antigas que abordam o ano de 68, facilitando a busca de material para os interessados no tema.

Selecionamos aqui seis lançamentos literários sobre o assunto, falando um pouco sobre cada um e dando a dica do melhor preço do mercado. Viaje no tempo e entenda o louco, enigmático, rebelde e utópico 68. Boa(s) leitura(s)!


1968 – ELES SÓ QUERIAM MUDAR O MUNDO

Autores: Regina Zappa e Ernesto Soto
Editora: Zahar - 311 págs.
Melhor Preço: R$ 33,90 – Submarino (www.submarino.com.br)

Organizado mês a mês por capítulo, 1968, Eles só queriam mudar o mundo, dos jornalistas Regina Zappa e Ernesto Soto, destaca os principais acontecimentos de 1968, no Brasil e no mundo. O livro ilustrado traz entrevistas e depoimentos de personalidades da época como os compositores Chico Buarque e Edu Lobo, o ex-deputado Vladimir Palmeira, o documentarista Vladimir Carvalho, entre outros, além de descontrair ao abordar músicas, filmes, futebol e moda do período. Um verdadeiro almanaque da geração de jovens que lideraram protestos, descobriram novas formas de luta e que até hoje influenciam nossas vidas.

Na capa, uma curiosidade: o rapaz é o designer Túlio Mariante pichando a palavra LIBERDADE no muro da Uni-Rio, no bairro da Urca, numa ação revolucionária em dia de repressão e muita pancadaria.


1968 – O QUE FIZEMOS DE NÓS

Autor: Zuenir Ventura
Editora: Planeta - 232 págs
Melhor preço: R$ 58,60 – Submarino (www.submarino.com.br)

Incluída a obra 1968 – O ano que não terminou, em uma caixa presente

Embora vendido separadamente, o novo livro de Zuenir Ventura 1968 – O que fizemos de nós pode ser comprado também em uma caixa comemorativa que contém a reedição de 1968 – O ano que não terminou, lançado há 20 anos. Este último tornou-se best-seller, com mais de 40 edições, além de ser considerado referência para o estudo da década de 60.

Na nova obra, o jornalista faz um paralelo entre o que se modificou desde o livro lançado em 1988 até os dias atuais. Zuenir aborda questões como a relação dos movimentos estudantis e anticapitalistas de 68 com o movimento dos jovens de periferia de hoje em dia. Levanta ainda a polêmica sobre uma nova luta entre a juventude ou sua alienação através do consumismo.

A segunda parte do livro é dedicada a depoimentos inéditos de Heloísa Buarque de Hollanda, Caetano Veloso, Fernando Henrique Cardoso, José Dirceu, Fernando Gabeira, Franklin Martins, entre outros.


68: DESTINOS – PASSEATA DOS CEM MIL


Autor: Evandro Teixeira
Editora: Textual - 120 págs.
Melhor Preço: R$ 88,20 – Livraria Martins Fontes (www.martinsfontespaulista.com.br)

Evandro Teixeira começou sua carreira no fotojornalismo em 1958. De lá para cá, sua câmera registrou cenas históricas do Brasil. Uma delas foi a Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, na Cinelândia, Rio de Janeiro. O momento virou referência para muitos jovens daquela geração que se reuniram para protestar contra a ditadura militar. O motivo foi a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, em 28 de março daquele ano.

Evandro conseguiu encontrar cem pessoas presentes àquela manifestação, fotografá-las no mesmo cenário de quarenta anos atrás e contar um pouco de suas histórias pessoais, a importância daquela efervescência vivida no Brasil e como ela influenciou suas vidas. A idéia do projeto veio depois de várias repetições do mesmo fato: alguém se emocionando ao se reconhecer na foto.

O livro conta com depoimentos de Vladimir Palmeira, Fernando Gabeira, Marcos Sá Corrêa, Augusto Nunes, Fritz Utzeri, entre outros.


MAIO DE 68: EXPLICADO A NICOLAS SARKOZY


Autores: Andre Glucksmann e Raphael Glucksmann

Editora: Record - 235 págs.
Melhor Preço: R$ 33,30 – Livraria Leitura (www.leitura.com)

Pai e filho se reúnem na autoria desta obra. De um lado, o filósofo André Glucksmann, militante nas manifestações da Paris de 68 e promotor da campanha de Nicolas Sarkozy à presidência da França; e do outro Raphael Glucksmann, cineasta reconhecido por seus filmes de vertente política. Juntos eles traçam um paralelo entre a juventude de 68 e a atual geração.

O título do livro foi dado devido a um comício de Sarkozy, ainda em campanha, em abril de 2007, quando este criticou profundamente o movimento. Sarkosy propôs enterrar o maio de 68, acusando-o de “introduzir cinismo na sociedade e na política”. André se sentiu ofendido e quis desde então provar, com a obra, que o futuro presidente, que tinha apenas treze anos na época, não seria nada sem aquelas manifestações ocorridas há quatro décadas.


EM 68: PARIS, PRAGA E MÉXICO


Autor: Carlos Fuentes
Editora: Rocco - 160 págs.
Melhor Preço: R$ 20,00 – Submarino (www.submarino.com.br)

Um dos maiores intelectuais da América Latina, o mexicano Carlos Fuentes presenciou as manifestações de 68. No livro, ele conta três episódios que viu de perto naquele ano: as barricadas de Paris, em maio; a Primavera de Praga, em setembro e o massacre de Tlatelolco, na Cidade do México, em outubro. Sua obra relata a vivência durante ou pouco tempo depois dos acontecimentos. Fuentes traz reflexões pessoais e depoimentos de estudantes, professores, operários e intelectuais como Milan Kundera, Gabriel Garcia Márquez e Jean-Paul Sartre.

O destaque fica por conta das descrições apaixonadas de quem viveu a época com a consciência de estar diante de um momento histórico, que deveria sobreviver por quatro décadas e ser conhecido por todos. Fuentes assistiu a jovens serem espancados e humilhados em praça pública e, por ter testemunhado os movimentos, decidiu escrever sobre eles.


MAIO DE 68

Organizadores: Sergio Cohn e Heyk Pimenta
Autores: Maurice Jouyrex, Allen Ginsberg, Abbie Hoffman, Peter Berg, Daniel Cohn-Bendit, Roel Van Duyn, Peter Coyote, Jean-Paul Sartre, Barry Miles, Allan Watts, Edgar Morin, Henri Lefebvre, Rudi Dutschke, Gary Snyder, Theodor Adorno, Timothy Leary e Herbert Marcuse

Editora: Azougue - 221 págs.
Melhor Preço: R$ 19,90 – Livraria da Travessa (www.travessa.com.br)

Em comemoração aos 40 anos dos movimentos de Maio de 68, Sergio Cohn e Heyk Pimenta organizaram uma edição especial da Coleção Encontros para lembrar a data. Reunindo uma documentação importante, a obra permite entender o período que mudou a cultura ocidental. Trazendo entrevistas – algumas delas inéditas – com Daniel Cohn Bendit, Jean-Paul Sartre, Marcuse, Adorno, Edgar Morin, Timothy Leary, Allen Ginsberg, entre outros, o livro faz uma análise do que foram os acontecimentos de 68, suas causas e conseqüências.

Grupos que promoveram manifestações políticas, sociais e culturais na ocasião também ganham destaque, como os Provos, na Holanda, contra a monarquia e a burguesia consumista; os Diggers, estudantes que iniciaram o que mais tarde seria conhecido como o movimento hippie, nos EUA; e os Situacionistas, na Itália, que aspiravam por grandes transformações questionando os pilares da sociedade.

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