sábado, 7 de junho de 2008

1968: A Turbulência chega ao Festival de Cannes

Por Ana Cecília Abreu (Editoria de Cinema)

O ano de 1968 tornou-se um divisor de águas na história recente, por ter sido marcado por movimentos estudantis e políticos em diversos pontos do globo, em nome da mudança de costumes, das liberdades individuais, da liberdade de expressão. Os historiadores, hoje, quando se voltam para aquele momento da história, vêem-no como um ano mítico, pois a partir das turbulências de 1968, sucederam-se várias transformações éticas, políticas, comportamentais e sexuais.

Nesta época, tiveram início os movimentos ecológicos, as lutas feministas e a voz os defensores dos direitos humanos e das minorias ganharam nova força. Surgiram também as primeiras ONGs.

Os estudantes que, armados de paus, pedras, irreverência e pichações iniciaram as manifestações em maio de 1968, em Paris. A França fervia. O movimento, que tinha começado com os jovens, ganhava cada vez mais adeptos de todas as idades e de diferentes classes sociais. Todos tinham como meta “a imaginação chegando ao poder”. E, nesse ideal, o cinema teve papel de destaque, bem como as artes em geral, genuínas representantes do saber humano.

O engajamento político no mundo do cinema já era de se esperar, especialmente pelos cineastas da “Nouvelle Vague”, movimento artístico marcado pela transgressão moral e estética, dos quais Godard, Truffaut, Chabrol foram alguns dos nomes mais marcantes. No filme “La Chinoise”, de 1967, por exemplo, Jean-Luc Goddard já destacava os valores de justiça social que viriam a movimentar os estudantes no ano seguinte, ao focar a temática na exaltação do operariado.

Logo após o início do movimento em Paris, em meio àquela agitação, bem no centro do furacão, começava no dia 10 de maio a 21ª edição do prestigiado Festival de Cinema de Cannes. O evento teve que ser interrompido antes do final, num acontecimento inédito, devido a manifestações e agitações, com as novas idéias trazidas principalmente pelos cineastas Jean-Luc Goddard, Claude Lelouch e François Truffaut.

Estes não demoraram a conseguir adeptos entre componentes do júri (os diretores Roman Polanski e Louis Malle e a atriz Mônica Vitti) e também entre alguns concorrentes, que retiraram seus filmes da disputa, como Milos Forman e Carlos Saura.

As manifestações cresceram e fizeram do Palácio dos Festivais, sede do evento, um palanque para discursos políticos e encontro dos militantes. Diante da força das agitações, a direção do festival o encerrou em 19 de maio. Foi um ano sem a Palma de Ouro.

Passados 40 anos, Cannes 2008, presidida por Sean Penn, vai colocar diante dos olhos privilegiados de seus convidados, os filmes que, em 1968, não foram vistos.

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