Por Ana Cecília Abreu (Editoria de Cinema)
Os tempos turbulentos de 1968 deram um impulso extra à suavidade, à delicadeza e à profundidade com que o cineasta italiano Franco Zefirelli trouxe a público a história de amor escrita por William Shakespeare e eternizada no imaginário de todas as gerações. Na verdade, essa era a hora certa para que os jovens de então suspirassem e encharcassem lenços de tanta emoção com a história de intolerância, resistência, paixão, amor e morte vivida pelo casalzinho na Verona renascentista.
Um amor que ultrapassou as, até então, inexpugnáveis barreiras da guerra declarada dos clãs inimigos: Capuletos X Montecchios. Os dois apaixonados foram capazes de tudo para viver seu sonho. E mostraram para a sociedade que mesmo mortos, estavam vivos em seu sentimento indestrutível.
As palavras de Shakespeare foram respeitadas, o texto foi praticamente todo mantido, com o vocabulário da época. Os dois protagonistas foram lançados nesse filme e eram tão jovens quanto seus personagens: Leonard Whiting, o Romeu, tinha 17 anos e a então estreante Olívia Hussey, era uma menina de apenas 15 anos.
Foi surpreendente o que esse filme representou para toda uma geração que vivia assustada com os movimentos reivindicatórios que pipocavam por todo o mundo. A grande revolução de costumes que se operava deu espaço para a representação mais clássica de um tema eterno: o amor entre um homem e uma mulher. E não foi só isso: a produção extremamente bem cuidada, com muitas externas em igrejas e prédios de época de cidades italianas, os demais cenários, os figurinos, a trilha sonora perfeita assinada por Nino Rota, tudo colaborou para que o filme criasse no espectador uma sensação de estar vivendo com os personagens aqueles momentos.
Aqui no Brasil, por exemplo, o filme Romeu e Julieta representou uma válvula de escape necessária para aliviar das tensões e medos constantes. Uma população que vivia sobressaltada pela supressão da liberdade de expressão e de muitos direitos individuais tinha mesmo a necessidade de vivenciar sentimentos diferentes. Nesse contexto, a obra de Zefirelli a partir da obra shakesperiana foi uma alternativa de altíssimo nível.
O filme recebeu quatro indicações para o Oscar de 1969 (diretor, filme, fotografia, figurinos), tendo vencido nas categorias figurino e fotografia. Leonard Whiting e Olívia Hussey receberam os prêmios de revelação masculina e feminina do Globo de Ouro de 1969, sendo que o filme também recebeu indicação nas categorias diretor, melhor filme estrangeiro, trilha sonora.
Todo o sucesso e os prêmios obtidos por essa peça chave do cinema europeu era alvo de crítica da parcela mais engajada politicamente, que desdenhava de quem suspirava com a cena do balcão, ou se emocionava com a imagem (ousada para a época) de Romeu, nu, evidenciando que os dois jovens tinham concretizado seu amor (sob as bênçãos ocultas de Frei Lourenço). Era como se, em tempos de AI 5, prisões e perseguições políticas, não pudesse mais haver espaço para o sonho, para o amor, para o sentimento.
Mas o jovem comum, no fundo, sentia a carência desse sonhar próprio da idade. Por isso houve tão grande identificação e aceitação por parte do público. Um amor que vencia até a própria morte, era tudo de que o povo precisava então.
Romeu e Julieta foi um clássico da literatura inglesa que, através do talento de Franco Zefirelli penetrou na realidade e no imaginário de milhões de pessoas em todo o mundo e, aqui no Brasil, causou enorme comoção.
Ficha Técnica:
Romeu e Julieta
(Romeo and Juliet, Inglaterra, Itália, 1968)
Títulos Alternativos: Romeo e Giulietta
Gênero: Drama, Romance
Duração: 138 min.
Tipo: Longa-metragem / Colorido
Distribuidora(s): CIC Vídeo, Paramount Pictures do Brasil
Produtora(s): BHE Films, Dino de Laurentiis Cinematografica, Verona Produzione
Diretor: Franco Zeffirelli
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