quarta-feira, 11 de junho de 2008

E o samba pediu passagem

Por Camila Seta e Suellen Campos (Editoria de Música)

Embora 1968 fosse mesmo o ano da MPB e dos festivais que revelaram grandes artistas da música popular, o samba pediu passagem e esperava ocupar seu merecido lugar ao sol. Alguns anos antes, em 1963, o Zicartola promovera um ressurgimento do ritmo no Rio de Janeiro. Era um bar no Centro, comandado com quitutes e muita cerveja por dona Zica, mulher de Cartola, e pelo grande sambista da Mangueira, que andara sumido. Cartola foi redescoberto e compositores como Zé Kéti, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola foram apresentados ao público carioca da Zona Sul no Zicartola.

Também em 1963, os CPCs da UNE permitiram o surgimento de lugares especiais para a música e a dramaturgia, como o Teatro Opinião, que contava com a paixão de Nara Leão pela música brasileira e, mais tarde, o vigor de Maria Bethânia e a presença iluminada de artista como Zé Kéti e João do Vale. O fato é que os anos 60 foram uns tempos de redescoberta da identidade brasileira. Na musica, no cinema, no teatro, a ordem do dia era a valorização da cultura nacional.

Assim, o espaço na televisão e nos festivais estava ocupado pela MPB. Em 68, o samba foi à luta. O protesto dos sambistas, endossado por jornalistas e críticos de música, principalmente os do Rio de Janeiro, reclamando que o samba não vinha tendo uma presença marcante nos festivais, abriu espaço para a criação da Bienal do Samba, realizada em julho de 1968, em São Paulo (com apenas uma outra edição, em 1971), que se tornou um contraponto aos festivais nacionais e internacionais. Muitos dos grandes sambistas do Brasil compareceram, alguns concorrendo, outros como convidados. Na Bienal, valia o voto do júri na música e o conjunto da obra do compositor.

Os participantes eram escolhidos por uma comissão especial e cada compositor indicado inscrevia a música que quisesse, sem julgamento prévio, desde que fosse inédita. Muitos grandes nomes foram desclassificados, inclusive na fase de seleção preliminar, como Wilson Batista, que morreria pouco depois.

O palco era o badalado Teatro Record, em São Paulo, e a grande divulgação que se fez do evento estimulou muitos compositores e intérpretes a participar. Era também uma oportunidade de os sambistas mostrarem seu trabalho. Assim, músicos como Ismael Silva, Pixinguinha, Walfrido Silva, Wilson Batista, Cartola, Pedro Caetano, Claudionor Cruz, Germano Mathias, Jorge Veiga, Isaura Garcia, Nora Ney, Jorge Goulart, Demônios da Garoa, Adoniran Barbosa, Helena de Lima, Miltinho, Ciro Monteiro e Ataulfo Alves dividiram o palco com Chico Buarque, Elis Regina, Jair Rodrigues, MPB 4, Márcia, Marília Medalha, Milton Nascimento, Edu Lobo, Baden Powell, Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Marcos e Paulo Sérgio Valle, Sidney Miller, durante as três eliminatórias realizadas nos dias 11,18, e 25 de maio.

A nata do samba estava presente com suas músicas. Lapinha, de Baden de Powell e Vinicius de Moraes, cantada por Elis Regina e com o apoio dos Originais do Samba, dominou a Bienal desde a sua primeira apresentação e se tornou um número imbatível. A música levou o primeiro lugar e Elis foi escolhida a melhor intérprete. Chico Buarque concorreu com “Bom tempo”, um maxixe, e ficou em segundo lugar. Em terceiro ficou “Pressentimento”, de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho; em quarto, “Canto chorado”, de Billy Blanco; em quinto, “Tive sim”, de Cartola; em sexto, “Coisas do mundo, minha nega”, de Paulinho da Viola; e em sétimo, “Marina”, de Sinval Silva. Ataulfo Alves foi de “Laranja madura”.

Uma história curiosa, contada pelo histórico produtor musical Solano Ribeiro em seu livro Prepare seu coração – A história dos grandes festivais, ilustra a boemia dos participantes da Bienal:

“Certa madrugada, com os primeiros lampejos do dia nos ameaçando, ao passarmos pela esquina da Avenida Ipiranga com a São João, Araci de Almeida, com seu jeito autoritário, disparou com solenidade: ‘Agora, em homenagem ao Paulinho Vanzolini, que fez a fama desta avenida, eu convido todo mundo para uma última rodada.’ Assumiu então a frente do grupo, que, obediente, não tinha outra alternativa senão segui-la. Uma dose a mais ou a menos já não faria muita diferença. Para surpresa geral, a Araçá levou a turma para uma farmácia e foi logo ordenando a um espantado atendente: ‘Manda uma vitamina B12 na veia dessa moçada, senão ninguém vai chegar em casa com o fígado inteiro’, e acrescentou: ‘Essa quem paga sou eu!’”

Um comentário:

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