Por Camila Seta e Suellen Campos (Editoria de Música)
Embora 1968 fosse mesmo o ano da MPB e dos festivais que revelaram grandes artistas da música popular, o samba pediu passagem e esperava ocupar seu merecido lugar ao sol. Alguns anos antes, em 1963, o Zicartola promovera um ressurgimento do ritmo no Rio de Janeiro. Era um bar no Centro, comandado com quitutes e muita cerveja por dona Zica, mulher de Cartola, e pelo grande sambista da Mangueira, que andara sumido. Cartola foi redescoberto e compositores como Zé Kéti, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola foram apresentados ao público carioca da Zona Sul no Zicartola.
Também em 1963, os CPCs da UNE permitiram o surgimento de lugares especiais para a música e a dramaturgia, como o Teatro Opinião, que contava com a paixão de Nara Leão pela música brasileira e, mais tarde, o vigor de Maria Bethânia e a presença iluminada de artista como Zé Kéti e João do Vale. O fato é que os anos 60 foram uns tempos de redescoberta da identidade brasileira. Na musica, no cinema, no teatro, a ordem do dia era a valorização da cultura nacional.
Assim, o espaço na televisão e nos festivais estava ocupado pela MPB. Em 68, o samba foi à luta. O protesto dos sambistas, endossado por jornalistas e críticos de música, principalmente os do Rio de Janeiro, reclamando que o samba não vinha tendo uma presença marcante nos festivais, abriu espaço para a criação da Bienal do Samba, realizada em julho de 1968,
Os participantes eram escolhidos por uma comissão especial e cada compositor indicado inscrevia a música que quisesse, sem julgamento prévio, desde que fosse inédita. Muitos grandes nomes foram desclassificados, inclusive na fase de seleção preliminar, como Wilson Batista, que morreria pouco depois.
O palco era o badalado Teatro Record,
A nata do samba estava presente com suas músicas. Lapinha, de Baden de Powell e Vinicius de Moraes, cantada por Elis Regina e com o apoio dos Originais do Samba, dominou a Bienal desde a sua primeira apresentação e se tornou um número imbatível. A música levou o primeiro lugar e Elis foi escolhida a melhor intérprete. Chico Buarque concorreu com “Bom tempo”, um maxixe, e ficou em segundo lugar. Em terceiro ficou “Pressentimento”, de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho; em quarto, “Canto chorado”, de Billy Blanco; em quinto, “Tive sim”, de Cartola; em sexto, “Coisas do mundo, minha nega”, de Paulinho da Viola; e em sétimo, “Marina”, de Sinval Silva. Ataulfo Alves foi de “Laranja madura”.
Uma história curiosa, contada pelo histórico produtor musical Solano Ribeiro em seu livro Prepare seu coração – A história dos grandes festivais, ilustra a boemia dos participantes da Bienal:
“Certa madrugada, com os primeiros lampejos do dia nos ameaçando, ao passarmos pela esquina da Avenida Ipiranga com a São João, Araci de Almeida, com seu jeito autoritário, disparou com solenidade: ‘Agora, em homenagem ao Paulinho Vanzolini, que fez a fama desta avenida, eu convido todo mundo para uma última rodada.’ Assumiu então a frente do grupo, que, obediente, não tinha outra alternativa senão segui-la. Uma dose a mais ou a menos já não faria muita diferença. Para surpresa geral, a Araçá levou a turma para uma farmácia e foi logo ordenando a um espantado atendente: ‘Manda uma vitamina B12 na veia dessa moçada, senão ninguém vai chegar em casa com o fígado inteiro’, e acrescentou: ‘Essa quem paga sou eu!’”
Um comentário:
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