segunda-feira, 2 de junho de 2008

68: Destinos. Passeata dos 100 Mil

Pela Editoria de Literatura


*Obra do fotojornalista Evandro Teixeira retrata a geração que lutou pela democracia e resgata a história das últimas quatro décadas no país

Lançado recentemente, o livro 68: Destinos. Passeata dos 100 Mil do fotojornalista Evandro Teixeira traz, em uma única fotografia, o retrato de uma geração, reunida na Cinelândia, no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968. A obra, com 120 páginas, conta a trajetória de vida de 100 pessoas que faziam parte da multidão, registrada pela lente de Evandro, considerado um dos mais importantes fotojornalistas em atividade no país. Ao resgatar a história de cada uma dessas pessoas, que foram fotografadas novamente por Evandro, o livro também conta a história do Brasil nas últimas quatro décadas. Nesta entrevista, o fotógrafo fala sobre a carreira, a experiência vivida na cobertura de manifestações contra o regime repressor dos militares e da fotografia como instrumento na luta pela liberdade e democracia. Confira:

Seus mais de 40 anos de carreira lhe possibilitaram acompanhar momentos importantes na história do Brasil, através de suas lentes. Do seu ponto de vista o que faz do ano de 1968 um marco na história?

No mundo inteiro, especialmente na França, 1968 foi um ano de contestação, de busca de um mundo melhor. Em Berlim, na Tchecoslováquia, no México e nos Estados Unidos também aconteceram manifestações contra regimes opressores. No Rio de Janeiro, vivemos dias terríveis, de censura e perseguição. Mas o dia 26 de junho de 68, quando aconteceu a passeata dos 100 mil, foi um dos dias mais bonitos que eu vivi. Como havia muita repressão, achávamos que haveria um massacre, porém, ao contrário, nada aconteceu e a cidade viveu um dia belíssimo, todos puderam se manifestar. Tudo parou, foram dias gloriosos e valiosos na tentativa de buscar coisas melhores para o Brasil. Naquela época, lotamos o Maracanãzinho e nos emocionávamos ouvindo a canção “Caminhando” cantor Vandré no Festival da Canção, música do momento que contestava a situação de repressão em que vivíamos. Como repórter do Jornal do Brasil, um veículo que era palco para os estudantes, vi muitas vezes a censura entrar na redação e quebrar tudo. Neste aspecto, acho que através da fotografia conseguimos superar os obstáculos e mostrar essas atrocidades que eram cometidas em todo país, muitas vezes a imagem mostrou fatos importantes, como na guerra do Vietnã, por exemplo, com a foto da menina incendiada.

Com a efemeridade dos fatos e a impossibilidade de algo mais concreto e permanente, você acredita que sem a marca que a passeata deixou, o futuro seria diferente?

Aquele dia foi muito importante. Uma quantidade muito grande de pessoas, mais de cem mil pessoas saiu para as ruas e a passeata serviu como um “cala boca” para aqueles militares terríveis. O futuro seria diferente se aquilo não tivesse acontecido. Artistas, intelectuais, padres, freiras se uniram aos estudantes. Foi um dos dias mais importantes da minha carreira, por que não podíamos nos manifestar em palco, gritando, tínhamos a responsabilidade de protestar através da imagem, mostrar aquela indignação. Por isso a fotografia teve um papel muito importante.

Recentemente, fomos surpreendidos, uma vez que isso não é muito comum, por jovens universitários ocupando a reitoria da UNB protestando o mau uso do dinheiro público. Se pudéssemos traçar um paralelo como você descreveria a juventude brasileira 40 anos depois?

Este movimento dos estudantes de Brasília me impressionou muito pela coragem e pela resistência, é assim que tem que ser. Foi algo que me comoveu, era um ato necessário e eles tiveram coragem, lembraram a época áurea dos estudantes. Com a resistência, você consegue. Pode demorar, terá conseqüências dolorosas, pessoas morrem e se machucam durante o processo, mas no final tudo se tem êxito.

O que você lia em 1968?

Eu lia muito. Fiz curso de Belas Artes. Até hoje, tento estar sempre bem informado. Na época havia muita coisa, apesar da grande censura. Lia muito Drummond, Antonio Caldo, Veríssimo, Resende. Sou um apaixonado por Castro Alves.

A exposição fruto da pesquisa tem data prevista de lançamento?

Será lançada mais próximo de julho.

Existe a discussão entre pessoas que acham que o movimento estudantil, na verdade, fortaleceu a época linha dura. O que você acha sobre isso?

Não concordo, os estudantes cometeram erros, mas lutavam por um futuro melhor, pela democracia e pela liberdade.

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