Por Camila Seta, Suellen Campos e Gustavo Medeiros (Editoria de Música)
Edu Lobo, um dos músicos mais talentosos de sua geração, tinha 25 anos em 1968 e tinha acabado de compor, em 1967, dois de seus maiores sucessos, “Pra dizer adeus” e “Ponteio”. Em 1968, compôs, entre muitas outras canções, “Memórias de Marta Sare”, com Gianfrancesco Guarnieri. Edu morava no Rio e fazia sucesso com músicas que traziam sons de um Brasil plural que se orgulhava de ser Brasil. Criou-se nas rodas das casas de portas abertas de grandes compositores como Tom Jobim, Luiz Eça, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra. Foi à Passeata dos Cem Mil, emocionou-se com os discursos do psicanalista Helio Pellegrino e de Vladimir Palmeira. Já naquela época, pensava em sair do Brasil para estudar música. A fama como cantor não era o que perseguia. Preferia ser compositor, entender mais a língua musical para se comunicar melhor com os parceiros e arranjadores. Mesmo com as minas explosivas da censura pós-golpe militar, até 1968 o trabalho prosseguia com dignidade. Mas um acontecimento nefasto o afastou dos amigos: com a decretação do Al-5, ele foi embora para os Estados Unidos.
“O Al-5, imposto em dezembro de 1968, foi definitivamente o que acabou me empurrando para fora do Brasil no ano seguinte. Eu já estava pensando em sair para estudar, por isso, sem dúvida, foi um belo pretexto. Sempre tive ligações fortes com o Brasil e morar fora era complicado para mim. Então, em 1969, saí daqui para me apresentar no Midem, na França, com a Elis [Regina], e na volta passei pelos Estados Unidos. Preferi Los Angeles a Nova York, talvez por causa do sol, por ser um pouco menos diferente da minha terra.”
Antes do Al-
Depois do Al-5, perdeu-se muita coisa na área da cultura por causa das proibições. Músicas, filmes, peças eram cortados ou proibidos. Lembro-me de um episódio engraçado. Duas músicas minhas foram mandas para os censores, como tínhamos que fazer, e voltaram censuradas. Eram ‘Casa forte’ e ‘Zanzibar’. Nenhuma das duas tem letra.”
Edu voltou de Los Angeles dois anos depois. Decidiu que retornaria para o Brasil quando passou por aqui vindo de uma turnê no Japão. Reviu os amigos na casa do pai, Fernando Lobo, e naquela noite se decidiu.
“Minha música depende muito dessas conversas, desses encontros com os amigos, os outros músicos. Na volta já não era a mesma coisa, mas ainda assim preferia estar aqui. Naqueles tempos, a gente queria mudar o mundo. Não sei se sobrou alguma coisa daquele espírito. A chamada musica de protesto se perdeu. Mas acho que foi assim no mundo inteiro. Não vejo herança daquilo. Hoje em dia se aposta na banalidade.”
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