quinta-feira, 5 de junho de 2008

No fundo do mato

Por Paula Dias (Editoria de Cinema)


Grande Otelo como Macunaíma em sua primeira fase

"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite".

Na verdade este herói nasceu em 1928, dos dedos do escritor Mário de Andrade, no fervor no Modernismo, período expressivo da cultura brasileira. Quarenta anos mais tarde ganhou vida em cores.
Baseado no romance do vanguardista moderno, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade criou o filme “Macunaíma”, a obra mais popular da terceira fase do Cinema Novo. Em meio a crises políticas e censura, o filme traz um herói que representa ao mesmo tempo o negro, o índio e o branco, sem nenhum caráter, preguiçoso, ganancioso e mulherengo.

O filme tem início no momento do nascimento de Macunaíma, que a propósito já nasce com preguiça de viver, tanto que até os seis anos de idade só sabia dizer “Ai que preguiça”. De uma hora para a outra o personagem muda, magicamente, de aparência, abandona o antigo corpo negro e desajeitado, se tornando um homem bonito, com ar de galã.


Macunaíma em seu primeiro momento de vida

Grande Otelo interpreta o herói desde seu nascimento até sua mudança e depois é substituído por Paulo José. Outros atores importantes integraram o elenco, entre eles: Milton Gonçalves, Joana Fonn, Dina Sfat.

Segunda fase do herói, interpretado por Paulo José

Os aspectos da Tropicália aparecem muito claramente neste filme e em quase todos os que foram produzidos pelos cineastas do Cinema Novo a partir de 1968. Esta influência do tropicalismo aparece de forma irreverente, mesclando seus elementos para elaborar temas alegóricos, literários e históricos, que, num misto de verdade e fantasia, faziam críticas enrustidas.

Macunaíma pode ser considerado um grande anti-herói, mas a verdade é que ele traz em sua essência um pouco do padrão cultural brasileiro, sendo assim um bom retrato do Brasil de um certo tempo.

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