“Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...”
No ano de 1968, em meio aos acontecimentos políticos no Brasil, a esperança da liberdade de expressão escorre entre as mãos do povo brasileiro, o grito da opressão enche os pulmões de ar com falas sem sons, reprimido pela ditadura que pôr um longo período deixou mudo o cenário sem paredes do país.
O país estava desse jeito, quando a tropicália emergiu. Ela trouxe consigo uma visão crítica das contradições de uma modernidade que se instaurou em uma sociedade presa a paradigmas retrógrados. A estética do tropicalismo e seu apego antropofágico deram novos rumos aos protestos contra a parafernália política, instalada no Brasil. Contudo, o valor atribuído ao movimento musical tropicalista vai além de instrumento político. A linguagem poética empregada nas letras incute na massa uma ideologia, um comportamento. O poder que a indústria cultural tinha sobre a massa, ajudou a fixar o movimento na mente daqueles jovens, que tinham sede de se livrar das amarras da política ditatorial. O movimento possuía uma estima cultural muito forte, as influências musicais vindas de fora do país se propagavam de forma ímpar, àqueles sons de guitarras fundiam-se ao estilo abrasileirado, dando uma nova característica à música brasileira.
O Brasil fervilhava naquele ano de 1968. A ânsia que o brasileiro tinha por liberdade fez com que a manifestação cultural criasse um novo campo de subterfúgio para poder se expressar: as músicas falavam de liberdade, sem tê-las; o teatro almejava a liberdade; as letras dos livros corriam soltas em linguagem metafórica. Tudo que o brasileiro queria era poder voar como aves sublimes sobre o céu azul. A época era riquíssima, a tropicália do povo cria uma estética contemporânea fiel a tudo que o momento necessitava. O discurso do movimento era preciso, seus participantes tinham um olhar futurista, igual ao dos nossos modernistas da Semana da Arte Moderna do ano de 1922.
Embora tudo contribuísse para que o movimento tivesse vida longa, em dezembro de 1968 Caetano Veloso e Gilberto Gil foram detidos no apartamento em que moravam, em São Paulo e foram forçados a prestar depoimento na Polícia Federal, morria a partir desse momento o movimento. Mas em nossas lembranças a tropicália estará sempre viva, como um legado cultural daquele ano de 1968, um período cheio de acontecimentos, que ilustrou o mundo com várias inovações e que, até hoje, alimenta reflexões sobre os mais variados contextos.
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