domingo, 25 de maio de 2008

1968. O ano dos outros

Este texto foi feito pelo professor Ivan Cavalcanti Proença para o blog do Jornal Laboratório da FACHA.

EXCLUSIVO

Se alguém considera que a juventude devia revoltar-se, bradar, espernear, incendiar, depredar, em nome de uma bandeira de luta por liberdade de droga, de sexo e, colonizadamente (no caso), de Rock and roll... Bom proveito. Se alguém considera que aquela juventude européia, revoltadíssima pelas ruas de Paris e às margens do Sena, representava os jovens do resto do mundo... Bom proveito.

Se alguém considera que a chamada contra-cultura (qual alternativa se instaurou de fato?) devia substituir, institucionalmente, outra forma de Cultura... Bom proveito.

Se você acha que aquela juventude cosmopolita, de capitais européias – com boas Universidades, sem problemas de séria natureza existencial como a necessidade de trabalhar ganhando miséria, para poder estudar e “ajudar em casa” (se conseguir) – devia mesmo ser rebelde (ó palavrinha feia, “fabricada”, global”)... Bom proveito.

Se você não raciocina sobre o que, afinal, resultou da ânsia de liberdade no uso de drogas e no “uso” de sexo... Bom proveito.

Se você não observou que a nossa Grande Imprensa alardeia 68, ouvindo intelectuais e artistas que (alguns) “por tabela” vacilaram, à época, aderindo àquelas bandeiras e ou publicaram e publicam livros-loas ao Ano... Bom proveito.

Se você não se importa com a alienação resultante disso tudo, quando hoje a exaltação a 68 faz com que jovens até julguem que o Golpe de fato ocorreu em 68, ignorando as barbaridades de 64 (e ao longo dos 20 anos), ignorando que 68 e AI-5 foram recrudescimento de tudo que já ocorrera em 64 e se prolongaria... Bom proveito.

Mas, por favor:

Não comparem a juventude brasileira da época àquela outra parisiense et caverna. Não coloquem tudo no mesmo saco, envolvendo nossos jovens que enfrentavam uma Ditadura impiedosa e violenta, atuando, aqueles moços, nos aparelhos, nas facções armadas, nas Faculdades, em toda parte, nas capitais e interior (a seguir nas guerrilhas não-urbanas). Maldade e injustiça histórica o que se faz. Nossa juventude ousava sim, mas através de outro tipo de underground, e de contra-cultura. Isto é, contra a cultura ditatorial e não raro assassina. Tudo diferente.

Cultivem o período e tudo mais, à vontade. Podem até, aburguesar-se como queiram, através de consumismos vários e rebeldias “sócio-culturais” – afinal, democracia é isso também.

Mas esqueçam a imagem daqueles jovens corajosos e dignos dos anos 60 e 70. Deixem conosco. A gente os lembrará. Para sempre.

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